domingo, 30 de março de 2008

REFLETINDO SOBRE STRAIGHT-EDGE - IAN MACKAYE

O post a seguir é um convite à reflexão a partir de duas entrevistas dadas por Ian Mackaye quando esteve no Brasil ano passado. Fizemos um recorte de trechos de 2 entrevistas que versam sobre Straight-Edge. Na sequência de cada recorte segue o link para ler a entrevista inteira. Boa leitura.


Então surge o assunto sobre o qual todos queriam saber: straight edge. A pergunta era para que Ian fizesse um breve comentário sobre a situação atual do straight edge e todo o mal entendido. Ian pergunta se é para falar das pessoas no Brasil, na Europa ou nos Estados Unidos e me pede para dizer para o que isso representa para mim. Antes que eu possa contar a minha impressão sobre o assunto Ian começa a responder a pergunta:

...em 1980 eu escrevi uma música chamada “Straight Edge”. A música era sobre pessoas, sobre viverem suas vidas como elas quisessem. Naquela época meus amigos me ofereciam um monte de merda (drogas e álcool) e eu dizia “vão se foder, eu tenho a minha vida e não quero ter que me juntar a vocês”. Pura pressão! Então eu escrevi essa música sobre o direito das pessoas de viverem a sua vida do jeito que elas quiserem. Mas na cena punk da época... a idéia do punk do no final dos anos 70 era niilista, era auto-destrutiva, mas eu não sou auto-destrutivo, eu acredito em auto-construção, eu faço coisas, eu não as destruo. Mas a auto-destruição era muito atraída pelo punk rock porque o punk era um abiente em que as pessoas eram diferentes e tinham pensamentos diferentes, radicais. A minha idéia radical era “eu não destruo, eu faço” e isso teve uma grande resposta e a maioria era contra essa idéia. Mas então, depois de alguns anos, outros garotos nos Estados Unidos começaram a dizer “hey, esse sou eu, eu também sou assim!” e aí o straight edge começou a ser isso, as pessoas começaram a falar sobre straight edge e então um tipo “movimento” se desenvolveu. Mas eu nunca fiz parte dele. E, obviamente, um movimento é contrário ao indivíduo, esses movimentos não ligam para os indivíduos. Mas eu estava cantando justamente sobre um indivíduo. E conforme esse “movimento” foi crescendo ele foi ganhando novas formas... você conhece aquela brincadeira chamada “telefone sem fio”, em que você fala para uma pessoa e no final vê como a frase mudou? É a mesma coisa! É maior do que eu, não é meu, se tornou algo diferente! Então quando você tem algo que pode ser percebido como regras as pessoas sentem que elas podem impo-las. Mas para mim nunca existiu nenhuma regra. E, claro, quando você tem regras você acaba atraindo fundamentalistas, puristas ou pessoas intolerantes e essas pessoas geralmente têm uma barriga cheia de violência. Elas querem botar isso pra fora e o jeito de fazer isso é procurando algo para puxar o gatilho. E se existem regras esses são os termos perfeitos para isso. Então, dentro do straight edge, existiam pessoas, não muitas, não a maioria, só algumas poucas, que colocaram essa violência em prática (creio que nesse momento Ian pode estar se referindo a um caso em que, nos Estados Unidos, um jovem morreu depois de ter sido espancado por um grupo de straight edges). Mas, porque a violência está nos jornais, na mídia e todos adoram falar sobre isso, as pessoas passaram a conectar as duas coisas. Pense a respeito! Hoje à noite, eu achei que foi um ótimo show, todos acharam isso, mas imagine se de repente alguém começasse a brigar... é garantido que todos lá iriam gritar “yeah! Uma briga!” porque é sobre isso que as pessoas falam, é sensacionalismo. Então ultimamente... a pergunta era sobre straight edge hoje em dia... independentemente do que isso quer dizer, eu diria que existem algumas poucas pessoas, marginais, que tem problemas e que usam isso como uma maneira de tentar lidar com a sua violência. Mas a grande maioria são pessoas que se sentem conectadas ao straight edge, que se denominam straight edge, são pessoas que tentam viver bem suas vidas, fazendo coisas boas e não se voltando contra ninguém. Isso responde a pergunta? (digo que sim) Legal!

Fonte: http://www.rockpress.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1443&mode=thread&order=1&thold=0

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Em entrevista recente tb, falando sobre seu novo projeto o THE EVENS ele versa sobre o assunto dizendo o seguinte:

IAN MACKAYE -> Então, meu ponto é que, na maioria das vezes, eu escrevo sobre o que eu penso e o que sinto, mas não é tão simples assim. Às vezes, eu tento ser bem direto ao ponto porque eu quero que as pessoas se envolvam, não quero que as pessoas achem que estou tentando confundi-las. No início do Minor Threat, eu dei às pessoas algumas idéias bem simples. Tentei ser o mais direto possível. O que eu descobri é que sendo tão direto, dando às pessoas idéias que, essencialmente, parecem completas, elas podem tomar essas idéias e usá-las como bem entenderem. Por exemplo, uma música como “Straight Edge”, que é uma música sobre auto-definição e autodeterminação, sobre viver a vida como você acha que é melhor para você, sobre rejeitar pressão de grupo e não ser forçado a fazer coisas que você não quer fazer, esta é uma idéia completa que pode ser usada por fundamentalistas para promover intolerância. Ou fazer pessoas obedecerem alguns tipos de tipo de estruturas. E isso nunca, nunca, nunca foi minha intenção.Eu já usei essa analogia várias vezes antes, mas o que eu percebi é que, escrevendo mensagens extremamente diretas nas minhas músicas, eu posso ter criado “uniformes” que qualquer um pode usar. E uma vez o sujeito o veste, sejam lá quais forem suas intenções, este “uniforme” torna-se sua missão. Então, mais tarde, me dei conta de que ao invés de fazer “uniformes”, eu deveria “costurar” idéias do mesmo modo como se costura tecidos e tramas mais complexas para que as pessoas se envolvessem com isso, para elas construírem algo de positivo a partir disso.

Fonte: http://desova.wordpress.com/2007/03/30/%e2%80%9ceu-sou-cheio-de-amor-eu-sempre-fui-cheio-de-amor%e2%80%9d/

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quinta-feira, 13 de março de 2008

OFICINA DE FANZINE NO GOMA


Acontece em Uberlândia – MG, entre os dias 10 e 16 de março, a I SEMANA ARTICULADA DO COLETIVO GOMA (coletivo formado por pessoas envolvidas nas várias ramificações da produção cultural de caráter independente) cujo objetivo é construir um espaço de debates e reflexões acerca das possibilidades concretas de uma gestão cultural independente e participativa, calcada nos pressupostos da economia solidária.

Dentro da extensa programação deste encontro promovido pelo Coletivo GOMA – que funciona como uma etapa local/preliminar do 1º ENCONTRO MINEIRO DE ARTISTAS, PRODUTORES E MÍDIAS INDEPENDENTES a acontecer em meados de 2008 – aconteceu a oficina "FANZINES: HISTÓRICO E CONFECÇÃO", ministrada por Paulo Lamana, João Filho e Daniel Melo (os dois primeiros do Zine Corrente de Força e o último membro do núcleo de comunicação do Coletivo Goma).

Abaixo fica o texto preparado pelo Paulo para essa oficina.


Oficina de Fanzines

Estrutura da apresentação:

Parte I - Definindo
Parte II - Importância
Parte III – Confecção

Parte IV - Reflexões da atualidade

Parte V - Referências

Parte I - Definindo

- O que é Fanzine? Elementos para uma definição.

Etimologia: O nome vem da contração de duas palavras inglesas e significa literalmente revista do fã (fanatic magazine). De um modo geral o Fanzine é toda publicação feita pelo fã. E quem é o fã? Definiremos o fã, de maneira mais positiva, como aquele(a) que nutre envolvimento com algo.

Características:

1 – Amadorismo e paixão: o Fanzine é um tipo de publicação que tem caráter amador (no sentido de “não profissional”, por isso, a apresentação com alta qualidade gráfica não descaracteriza o Fanzine) e que gera uma satisfação pessoal por parte de editores e colaboradores, em fazê-lo.

2 - Ausência de cunho comercial: são produções/publicações realizadas sem intenção de lucro e fora das estruturas comerciais de produção cultural. Geralmente é marcado por pequenas tiragens (no caso do papel) e distribuição gratuita.

3 – Espírito coletivo: Os Fanzines são extensões do relacionamento de seus editores, colaboradores e leitores. Resultam da iniciativa e esforço de pessoas que se propõem a veicular produções artísticas ou informações sobre elas, que possam ser reproduzidas e enviadas a outras pessoas. Constitui-se característica fundamental dos Fanzines a camaradagem entre editores, colaboradores, leitores. O Fanzine atua como uma extensão da amizade que vai se firmando entre seus participantes em torno de assuntos de interesse comum. (Criam-se redes de afinidades)

4 – Liberdade de expressão, edição e forma: nos fanzines há liberdade de expressão e temas, formatos variados e divulgação de idéias que abrangem diversos assuntos e assumem as formas mais experimentais. O editor de Fanzines tem total liberdade de edição, podendo publicar o que quiser, mudar a linha editorial no meio do caminho, mudar formato, número de páginas, privilegiar assuntos que lhe são mais caros, abrir espaço para colaboradores que possam não agradar, manter aperiodicidade, distribuir exemplares de graça, fazer todo tipo de experimentação, expressar-se sem maiores restrições.

Algumas opiniões sobre o assunto:

a) Na opinão do produtor musical Rodrigo Quik, que já participou escrevendo em algumas publicações do gênero, "Fanzine é fazer tudo que você não pode nos meios de comunicação tradicionais. É anarquia no bom sentido. É liberdade de expressão verdadeira".

b) Rodrigo Lariú[1] completa, "Não sei se alguma coisa que se diz fanzine pode não ser considerado como. Uma das características mais importantes de um fanzine é a liberdade de fazer o que se imagina. Não dá para censurar alguém que diz fazer um fanzine simplesmente dizendo que aquilo não é um fanzine. Eles não têm regras".

c) Para o jornalista Tom Leão, zineiro desde os 13 anos e editor do Rio Fanzine: "Uma revista vendida em banca não é um fanzine. Qualquer outra forma de expressão escrita, no papel ou numa página da internet, e que circule livremente, é um fanzine. O tema é livre, não precisa ser de música ou quadrinhos, por exemplo".

Alguns temas e conteúdos de fanzines: histórias em quadrinhos, música (nos fanzines concernentes à música encontram-se entrevistas, resenhas de cds e de shows, agenda cultural, bandas, etc.), feminismo, vegetarianismo, cinema, jogos de computador e vídeo-games, poesias, contos, colagens, experimentações gráficas, viagens do “eu” (egotrips), enfim, tudo que o editor julgar interessante. O tema é livre.

5 – “Extra-oficialidade”: Os fanzines são veículos de opinião "extra-oficial". E entenda-se por "extra-oficial" aquilo que não está comprometido com empresas, organizações, governos ou instituições.

- Por que fazer Fanzine?

Há vários motivos que levam uma pessoa a fazer um fanzine, aqui vão alguns:

a) A paixão por um determinado assunto ou prática e a satisfação pessoal de ver a repercussão pública que se gerará por parte de outros aficionados.

b) Apenas divulgar sua própria expressão artística, idéias, pensamentos, críticas, viagens do “eu”, pensamentos pessoais, etc.

c) Principalmente no caso de HQ’s muitas vezes o editor deseja compartilhar com outros interessados o material de sua coleção (espírito solidário).

d) Produzir apenas para um círculo de amigos que tem interesse e demandam aquele tipo de manifestação artística (o fanzine).

e) Buscar a profissionalização e o fanzine acaba sendo o meio de mostrar seu trabalho para outras pessoas ou para os editores profissionais, e ao mesmo tempo um estímulo para produzir e aprimorar o trabalho.

Síntese

O Fanzine é a forma de expressão do editor, ou grupo de editores. O que define a pauta do Fanzine é aquilo que seu editor deseja compartilhar com seus leitores. O Fanzine é caracterizado pela independência do editor (e uma das garantias desta independência é que muitas vezes o editor mantém o Fanzine arcando com seus prejuízos). Outra característica do Fanzine é que está intimamente ligado à atividade cultural, à sua divulgação e ao prazer de se estar envolvido nela. Os fanzines estão a serviço da difusão desordenada da informação, sem formatos preestabelecidos ou manuais de redação e estilo, mas que não deixam de criar em torno de si uma organização própria, com temas, público, linguagem e táticas de publicação que podemos chamar de Cultura do Zine.

Parte II – Importância

- Qual a importância dos fanzines?

a) A maior importância dos Fanzines é cultural: componentes do que poderíamos chamar de contra-cultura (ou cultura alternativa) os fanzines geram a troca de informações entre milhares de adeptos ou fãs e movimentam uma cena undreground recheada de novas bandas, ilustradores, jornalistas e escritores em busca de espaço e público.

b) Os fanzines tem um caráter de antecipação de pautas. Os fanzines estão onde as pautas dos jornais e revistas ainda não chegaram ou, como acontece bastante, acabam chegando a reboque. "Os zines são a eminência parda da imprensa cultural brasileira. Tudo que os editores de cadernos culturais escrevem é dito primeiro pelos fanzines. E muitos destes editores são ex-fanzineiros", concorda Rodrigo Lariú.

c) Formação e amadurecimento de artistas, satisfação pessoal dos editores e colaboradores de estarem divulgando seus trabalhos e ampliação de amizades entre os que participam desse mundo dos Fanzines.

d) Nos aspectos crítico e informativo identificam-se também algumas contribuições dos Fanzines. Principalmente no caso de HQ’s, mas não somente, a liberdade criativa dos fanzines permite a veiculação de trabalhos mais isentos e com maior profundidade. As críticas, veiculadas nos Fanzines, sobre as adulterações feitas pelas grandes editoras nas histórias em quadrinhos publicadas por elas no Brasil, chegaram até os editores provocando, no primeiro momento, reação, mas posteriormente levando-os a realizarem um trabalho mais consciente.

e) Principalmente no âmbito dos quadrinhos muitas vezes é nos Fanzines que os editores profissionais buscam informações e esclarecimentos sobre o passado de séries e personagens. Muito importante é a iniciativa de resgate de trabalhos e autores brasileiros e estrangeiros feito pelos editores de Fanzine (pois de certos autores não há o menor interesse das editoras profissionais em publicar seus trabalhos). Através dos Fanzines é possível tomar contato com todo esse material.

f) Os Fanzines também têm sido o veículo de divulgação de sérias pesquisas que deviam estar sendo promovidas pelo meio editorial ou pelo meio acadêmico. A inexistência de um mercado profissional estável para o quadrinhista brasileiro desestimula tanto a produção dos artistas já maduros quanto o desenvolvimento de novos talentos na área. Assim, mesmo que de forma bastante limitada, os Fanzines têm promovido a produção de quadrinhos brasileiros através do incentivo da publicação, mesmo não remunerada e de alcance restrito.

Parte III - Confecção

- Como fazer? A produção de um Fanzine abrange as etapas que começam com: a) iniciativa de editar, b) passa pelo trabalho de definir linha editorial, c) conseguir o material a ser editado, d) manter contato com colaboradores, e) montar a edição, f) conseguir a impressão, g) até chegar ao resultado final que é a edição impressa. É o aspecto mais pessoal de todo processo. A elaboração dos originais da edição depende principalmente da visão do editor, sua capacidade de criar, de contatar outros criadores, de organizar todo o material disponível. A edição será reflexo da formação cultural do editor. Todo tipo de material é válido para compor a edição (HQs, poesias, contos, fotos, ilustrações, colagens, etc). Obviamente o resultado também dependerá dos recursos materiais que o editor tiver disponíveis, como máquina de escrever, computadores, scanners, etc, mas estes não são os ingredientes mais importantes na feitura da edição. O que caracteriza primordialmente um Fanzine é a personalidade que seu editor lhe imprime. A maneira mais simples de fazer um original de Fanzine, que vá ser reproduzido em xerox, utiliza apenas papel, tesoura, caneta (ou máquina de escrever) e cola. O editor escreve ou coleta o material escrito, seleciona as ilustrações, faz a montagem do material em folhas de papel no formato que vai ser reproduzido. Após a impressão em xerox de um certo número de cópias de cada original, o editor deve montar cada exemplar e grampeá-los.

- Como imprimir? A impressão constitui-se hoje um problema menor do que alguns anos atrás. Aconselhamos os dois tipos a seguir: a) A impressão em xerografia, que é a forma mais simples de reproduzir um Fanzine, pois facilita a produção do original, e atualmente há uma difusão relativamente grande de máquinas copiadoras com preços de cópia relativamente acessíveis. b) Se o editor pretende bancar uma tiragem relativamente alta, a impressão em off-set é mais adequada, pois apresenta custo por cópia menor.

- Como facilitar a produção? Apesar de, como já foi dito, a facilidade de impressão hoje ser bem maior, a necessidade de algum recurso financeiro para o editor bancar mesmo que uma pequena tiragem ainda é um problema grande, e muitos editores não conseguem ultrapassá-lo. Aconselhamos as alternativas a seguir: a) Constituição de grupos ou cooperativas. Diversas pessoas com interesses semelhantes se agrupam para produzir edições em conjunto, rateando tanto os custos de impressão quanto o próprio trabalho de produção dos originais, e também o trabalho futuro de divulgação e distribuição. b) Outra solução é o uso de anunciantes para bancar os custos de impressão. A dificuldade óbvia desta solução é que o editor tem que também se fazer as vezes de departamento comercial e sair à caça de anúncios.

- Como divulgar? Divulgação compreende o trabalho de anunciar a edição, elaborar e enviar malas diretas, fazer com que possíveis interessados saibam da existência do trabalho. Uma das principais características dos Fanzines é a mútua divulgação que fazem entre si. A divulgação dentro do próprio meio costuma ter uma boa resposta. O único problema é que muitas vezes esta divulgação fica muito restrita dentro do próprio meio independente.

- Como distribuir? Distribuição é fazer a edição chegar ao leitor, inclui receber pedidos, envelopar e postar ou mesmo vender de mão em mão em eventos afins. A maior parte da distribuição dos Fanzines é feita através do correio ou em eventos relacionados.

- Avaliando Fanzines

A avaliação de Fanzines não pode ser feita usando os mesmos critérios usados para avaliar trabalhos veiculados nas publicações profissionais.

a) Muitas vezes o Fanzine é uma obra extremamente pessoal, feita seguindo diretrizes muito próprias do editor e dirigida a um grupo específico de leitores. Com tantas especificidades, a obra está fora da capacidade de apreciação de quem não pertença ao grupo.

b) Em alguns casos, o Fanzine é resultado da expressão de pessoas muito jovens, cujos trabalhos não têm maturidade artística, e não seria honesto avaliá-los pelos mesmos critérios usados nos trabalhos profissionais. Ao contrário, a atitude a ser tomada em relação a quem está procurando achar seu caminho artístico, aprendendo e evoluindo, deve ser de orientação e principalmente incentivo.

c) Há, contudo, no meio independente, artistas completos, produzindo trabalhos que resistem à avaliação segundo critérios profissionais, tanto que uma parcela significativa das melhores HQs e revistas produzidas no Brasil nos últimos trinta anos se encontram no meio independente.

Parte IV – Reflexões sobre a atualidade

Fanzine é revista, ou seja, uma publicação impressa onde cada leitor pode ter seu exemplar, como denota o magazine que forma seu nome. Atualmente, com o desenvolvimento da tecnologia, a palavra Fanzine já está sendo usada em trabalhos que não estão na forma de revista, mas que trazem o tipo de material encontrado nos Fanzines impressos. O E-zine é a contração de electronic e fanzine, ou seja, um "fanzine eletrônico". Trata-se de uma publicação que possui as características de um fanzine, mas em vez de usar o formato tradicional de divulgação (papel), lança mão do formato eletrônico, seja como um documento que pode ser aberto por um aplicativo específico (por exemplo, um arquivo de texto, PDF ou HTML, geralmente com ligações que permitam percorrê-lo em modo de hipertexto), seja como um executável para uma plataforma específica..

Diante desse novo movimento podemos dizer que:

a) A internet tem ampliado/expandido a definição de fanzine: e-zine, mailzine, blog etc

b) A evolução da tecnologia facilitou e diminuiu custos de distribuição/disseminação de fanzines possibilitando com que muito mais gente tenha acesso.

c) Assim como a televisão não acabou com o rádio, ou as revistas não extinguiram o jornal, etc etc os e-zines não vão substituir ou desaparecer com os fanzines em papel. Os dois meios coexistirão, o xerocado e o virtual, até porque não são todos que tem internet ou computador em casa. Então , uma coisa alimentará a outra e uma não é contra a outra.

d) Apesar de todas as dificuldades de publicação, apesar da euforia com a internet e da efervescência dos muitos e-zines que pipocam por aí todos os dias, apesar de tudo, o papel guarda um amor tátil e tem o seu lugar nas mãos dos leitores que apreciam as possibilidades gráficas que só a celulose permite.

e) Não. O cenário underground NÃO está perdendo a sua identidade. No reino dos fanzines sobreviverá a democrática anárquica do "faça você mesmo", não importando se em papel jornal ou couché, tamanho ofício, A4 ou tablóide, e-zine, mailzine ou blog, etc, etc.

Parte IV – Referências

- Algo sobre Fanzines (Edgard Guimarães) http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=41&rv=Literatura

- Fanzine rotulando o in-rotulável
http://www.mood.com.br/3a01/zine.asp

- O rebuliço apaixonante dos Fanzines (Henrique Magalhães)

Tese de mestrado do autor que pode ser adquirida em forma de livro por 20 reais na livraria da UFU ou com o autor através do email mdefantasia@ig.com.br

- O que é Fanzine? (Henrique Magalhães)

Resumo da tese de mestrado do autor, editada pela Brasiliense, lançado em 1993 (da clássica coleção “O que é ...?”.

Vídeos usados na atividade:

Skatismo #1

http://br.youtube.com/watch?v=roagRf7n69o

DIY - How to Make a Zine; Paper, Scissors, Pen - Rockin!

http://br.youtube.com/watch?v=Xh1W15BWCUk

Confecção dos cartazes -Oficinas de Fanzine (mostra a técnica do Stencil) http://br.youtube.com/watch?v=MVneiF8SvOM

segunda-feira, 10 de março de 2008

AS DROGAS MATAM A REVOLUÇÃO

Produzido pela banda de hardcore portuguesa New Winds.

A não ser que as pessoas queiram manter tudo na mesma, gostem ou não, para alguns de nós o Straight Edge (SXE) é a única maneira válida. Não o "status" ou nome em si, mas a abstinência dos venenos que a sociedade criou para controlar as nossas vidas. Chamem-lhe SXE ou não lhe chamem absolutamente nada; nós apenas chamamos SXE. Para alguns de nós e para atingir os nossos objetivos, não existe outra maneira. ENCAREM!

Nós recusamo-nos a viver sobre as vossas mentiras, nós recusamo-nos até onde nos for possível a financiar a fonte daquilo que nos destrói. É tão claro! Nós recusamo-nos a dar o nosso dinheiro à indústria da morte que é a do tabaco não só porque nós nos preocupamos com a nossa saúde, com a dos outros e com a destruição massiva de florestas tropicais, mas porque nós temos medo dos poderes aos quais damos força ao agir nesse sentido. Nós não queremos financiar a "operation rescue" ou a Ku Klux Klan, nós não queremos encher os bolsos da Philip Morris e da EXTREMA DIREITA! Eles são nossos inimigos e deviam ser seus também!

Quando 80% do preço da venda de um cigarro é convertido em impostos, é fácil ver quem está a lucrar! Financia o estado enquanto eles te encurtam a vida. É dois em um! Apatia gera doença. A maneira de eles fabricarem consenso é a essência da democracia. E tu apenas te limitas a jogar o jogo.

Nós recusamo-nos a financiar os barões da droga, extorsionistas e traficantes - eles são pagos para manter a juventude calada e de uma maneira letárgica de pura intoxicação adormecida. Isto nunca foi nem nunca será rebelião. Tu sabes que faz sentido. Não tentes esconder esta verdade. O prazer é transformado em dor. A vida em morte. O teu dinheiro transforma-se em ouro nas mãos deles. E assim manténs a máquina do lucro a rodar. Eles mantêm as mãos da juventude bem apertadas. O dinheiro deles tem manchas do sangue dos nossos irmãos, o seu bem-estar é o sofrimento das nossas irmãs.

Nós recusamo-nos a financiar a milionária indústria do alcóol. Nós recusamo-nos a fazer parte de uma construção esteriotipada e artificial de divertimento que é responsável, direta e indiretamente, por violações, violência doméstica e abusos sexuais. Nós recusamo-nos a financiar um "click" tão perigoso. Nós recusamo-nos a viver nessa falsidade. Nós não necessitamos de viver sobre a sombra de um fruto fermentado ou de algumas folhas enroladas num papel por uma máquina que previamente introduziu toxinas como o alcatrão e outros químicos ao longo do processo produtivo. Nós recusamo-nos a aceitar que isto é natural, porque isso é apenas mais uma desculpa para não mergulhares bem fundo dentro de ti mesm@. Todos nós temos fraquezas, mas não tentamos escondê-las e disfarçá-las de escolhas sobrepondo-as a necessidades. Tu chama-lhes escolhas e nós chamamos opressão.

Nós recusamo a financiar a exploração indígena. Tudo o que tu queres fazer é voar, chapar, ficar maluco, viajar e tudo o que eles queriam era viver as suas vidas fora das ameaças dos narco-estados e dos cartéis que tu financias... Nós recusamo aceitar que comportamentos opressivos são escolhas. Ninguém tem o direito de oprimir ninguém. Ninguém deveria apoiar tal opressão. Quando as tuas escolhas implicam mais do que a tua vida, tens que ter cuidado porque as tuas escolhas podem se tornar opressões e este financiamento é sem dúvida opressão.

Nós recusamo-nos a participar numa indústria que fermenta os seus produtos (cerveja) com ingredientes provenientes de matadouros. Para alguns de nós, o veganismo (vegetarianismo estrito) é o caminho sem fim para o desenvolvimento pessoal e para uma vida cada dia mais livre de ingredientes de origem animal e não um status que acaba onde nossos desejos triviais começam. Nós recusamo-nos a financiar duas das piores indústrias no que concerne a testes em animais e vivissecção apenas para vos ser dado alguns momentos de alegria e prazer. Nós odiamos a vossa hedonística e vazia visão da vida!

Nós tentamos não cair nas armadilhas do estado e nós vemos bem que estas podem ser duas das melhores: Milhões presos, insegurança por todo o lado, brutalidade policial injustificada...é tempo de parar!

Dêem-lhes discotecas, sexo e alcóol e está feito. A juventude está presa na lama da conformidade. Mas tu, és ainda pior, porque tu compreendes estes fatos e mesmo assim ajudas a contribuir! Nós recusamo-nos a seguir a idéia de que, para ficarmos contentes para viver ou para ser alguém tu tens que beber, fumar ou usar qualquer outra droga. Nós não precisamos. É tão simples quanto isso mas tu és tão cego que nem consegues fugir a este hábito social. Não consegues distinguir os inimigos dos amigos. Nós recusamo-nos a financiar um instrumento de estado. Um intrumento que é responsável por alienar as maiores partes da nossa juventude.

Um instrumento de submissão, adicção e dependência. Por que é que a fazes? Gostas? Fala-nos de consumir menos e nós falar-te-emos em hipocrisia. Que raio de consumo a menos é que tu segues quando as coisas que tu apoia nada têm a ver com necessidades básicas essenciais. Como comida ou roupas para te protegerem do frio? Fala-nos em anarquismo e nós te falaremos de controle do estado. Fala-nos de capitalismo e nós falar-te-emos da Philip Morris (Marlboro), Budweiser, Camel e por aí.

É sem dúvida engraçado que, em desespero e em vez de mudares a ti mesmo, porque sabes que estes são argumentos válidos, limita-tes a atacar-nos com nossas incoerências. Sim, nós as temos, mas o que é triste no meio disto tudo é que tu também tens as que nos apontas, por isso onde é que está a tua legitimidade para falares sobre elas? Triste mas verdade.

Os grande revolucionários anarco-situacionistas bla bla bla não passam de um bando de viciados cantando sobre uma revolução que nunca acontecerá. Completamente atolados em merda e contigo à frente sempre a velocidade do ponteiro das horas. Nós preferimos ser chatos. Nós preferimos ser chatos em vez dos Vossos discursos revolucionários. Porque nós acreditamos tanto neles, porque são verdadeiros e porque tentam, eles estão dispostos a mudar e estão dispostos a arriscar. Eles beijam, eles amam quando sentem as chamas dos seus corações a arder por dentro e não têm essas atitudes porque o alcóol assim o diz para agirem. Nós recusamos essa fraqueza sem sentido; nós recusamos essa falsidade de sentimentos.

Sim, nós ouvimos antes e ouviremos de novo: é a tua escolha, claro que é, mas encara estes fatos e não escondas as tuas mãos porque o sangue deles não está lá, está nas tuas veias, nos teus pulmões e no teu cerébro. Vai te foder!

Nós recusamo-nos ser "legais" porque preferimos ser nós mesmos e realmente tentar mudar as coisas à nossa volta. Nós recusamos os vossos ciclos de decadência, drogas e viagens. Tamanha falta de imaginação!

A verdadeira viagem é dentro de ti. Só dentro de ti e nada mais, só tu. Se queres voar, medita... Está lá o lugar onde podes encontrar o verdadeiro "eu".

Numa era em que o lixo é característica base desta sociedade vais pôr mais dentro de ti? Temos tanta coisa aqui dentro, tanto excesso de informação inútil. Tira em vez de colocar. Simplifica. Simplifica. Simplifica. Qual a tua idéia de uma vida simples? Consegues viver de uma maneira simples para que os outros consigam simplesmente viver?

Consegues ser uma pessoa simples com uma vida simples? Quebra o ciclo! Alerta em vez de rendição. Rejuvenescimento após o grande acordar. Isto é despertar vivo. O Straight Edge - é a esta arma a que nós estamos crucificados. O Straight Edge - são mais do que palavras cravadas no nosso sangue. Nós ainda fazemos "X". Nós ainda recusamos. E nós escrevemos em pedra: nós não cairemos! Porque somos punks demais para beber, fumar ou tomar drogas! Recusa. Resiste. Protesta.

Enquanto não te afastares desta cultura de intoxicação, a tua revolução nunca acontecerá, porque está perdida no meio dos bolsos deles. Enquanto não parares de ter os mesmo comportamentos daqueles que tu atacas, enquanto não parares de consumir os produtos desnecessários. Enquanto não parares de identificar o que está errado mas nunca mergulhando no que está certo. Enquanto não perceberes que a sua cultura corrupta de fumo, drogas e alcóol foi transferida para o teu núcleo social. Não vai haver mudança, porque simplesmente não há diferença. Repara que estás tão desnorteado que estás a morder a mão do que te dá de comer, que te dá aqueles maços de Marlboro, Free, aquela cachaça ou aquelas latas de cerveja. O erro não está em morderes e sim em aceitares a refeição...

Para aqueles que recusam a caminhar pelo caminho do Straight-Edge - lambam as botas que vos esmagam a cara se é que querem, mas tentem se lembrar disto: Nós somos inimigos. Ou estás conosco ou estás com eles. NENHUMA OUTRA HIPÓTESE!

É tempo de veres a coisa de maneira clara. Nós odiamos este sistema e as suas regras.

Não participes...

Sempre que te confrontamos somos invadidos com tanta raiva e desprezo. Como é que podes financiar aquilo que nos destrói?

Vá lá, diga-me: bebe e luta, fuma e resiste. E que tal: dorme e mantém-te acordado? Dá dinheiro à máfia e luta contra ela? Que hipocrisia!!! Todos a guerra!!! Vamos começar uma tempestade!!!

domingo, 9 de março de 2008

quinta-feira, 6 de março de 2008

CERRADÃO HARDCORE


Acontecerá, no próximo final de semana (dia 16/03/2008), mais uma edição do CERRADÃO HARDCORE.
Mais infos: www.fmicore.com.br


segunda-feira, 5 de novembro de 2007

MOVIMENTO HARD-CORE


CAIAFA, Janice. O movimento hardcore. In: CAIAFA, Janice. Movimento punk na cidade: a invasão dos bandos sub. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.


O mínimo punk aqui é quase nada: o instrumento é o rangido, o vocal é o grito, cada música são segundos. É não tocar, não cantar: anti-música. Só o atrito.
Embora bem defmido enquanto som, o punk pode ser trabalhado por desvios (em ângulos sempre agudos de, por exemplo, cinco graus), pode ser aproveitado por outros estilos de som que o transformam, pode ser assumido por uma banda como "influência" e pode ser visto no panorama do rock, mesmo que seja para ele o transtorno e a subversão. Mas não existe transição possível do hard-core. Ele não passa do que é e não serve para outra coisa senão para si mesmo. Ele não pode ser convertido ou adaptado porque o que usa para se fazer é tão horrível que inassimilável (como a abominação da suástica). Para os conversores não há ponto de inserção num corpo tão áspero (o grito, a exasperação, o barulho). Os centros de poder atêm-se aos impasses, engrossam os coágulos dos fluxos, transferem-nos para sua zona de potência e lá os reverberam: as mídias tomam os braceletes no que eles podem ter de pulseira, o negro no que ele pode ser elegante, o cabelo arrepiado no que ele pode compor um penteado (o que portanto já não é mais o punk), e os reproduzem para quem quiser comprar essa cópia de si. Do hard-core não há o que aproveitar, não hácomo domesticar tanto atrito. O perigo para o hard-core enquanto núcleo de resistência é menos ser absorvido do que provocar sua própria destruição. Porque nessa relação variável que a máquina-de-guerra tem com a guerra, pode-se dizer que ele está muito próximo de sua abolição. É mais fácil ele morrer por si mesmo, pelo extremo da linha de fuga. Quando ela vinga por um processo por demais violento, por uma desterritorialização "à la sauvage", o deslocamento abrupto é para ela mortal. O hard-core é como a suástica: sua violência é o que o toma inassimilável e portanto o salva e ao mesmo tempo o aproxima da absoluta autodestruição.
Um pouco mais e é o fim (um fim que vem pela própria fuga e não de fora pela absorção). Um pouco mais e o hard-core é um estrondo só, de explosão ou de desastre. Ir um mínimo além do hard é incendiar ou quebrar tudo em volta. O ódio hard está no limite dessas provocações: tudo pelos ares, destruição total, fim do mundo. O hard-core é um ritmo que se mede pelo mínimo de tempo possível em que se pode produzir uma música. Ele figura numa escala de aceleração segundo o tempo das músicas em contagem regressiva por subtração: hard-core (até 30 segundos), trash (até 18), laudfast (até 12).
No fanzine A Prensa, de JF, Vietnão me mostrou o "núcleo hardcore": uma circunferência negra, pequena e concentrada dentro de uma bem maior e branca, que são os punks. Na fIgura seguinte o núcleo negro se expandiu e tomou conta do espaço da outra circunferência, cobrindo todos os claros é o Movimento crescendo pela força do hard-core. Hardcore é esse ceme negro e irredutível que resiste enquanto tudo está branco em volta, e se alastra até enegrecer todo o resto. Vampiro tem um jaco com o símbolo hard-core na manga, cujo traço parece um desdobramento do "símbolo da paz", também uma insígnia hard-core. No símbolo hard-core se vê um H e um C. O símbolo da pàz é usado invertido - me diz Vietnã - significando "paz artificial". Ou então duas metralhadoras se cruzam sobre ele acompanhando o desenho, como na capa do disco dos Ratos de Porão (banda punk - SP).
Na extrema violência do visual e do som, os hard-core estão pedindo a paz. A banda Terveet Kadet da Finlândia aproveita esse símbolo retifIcando as , curvas do C para escrever "TK" (suas iniciais). Usa-se também "M H C" para indicar que se é hard-core. Como se denominam diretamente por vezes, embora seja raro, a denominação genérica émesmo "punk". Por essa época contudo, por volta de agosto de 84, ostentar esses símbolos e optar por esse som tornou-se muito expressivo e definidor mesmo de uma posição dentro do bando. Os "radicais" começaram a ficar mais juntos entre si no point e mais longe dos outros. Eram também Cláudio e Caverna. O Caverna estava usando agora um jaco que ele comprou do Vampiro e que tinha pintado nas costas:

MHC
ME TIREM DESSE INFERNO

"Me tirem..." é uma música do Olho Seco (SP). No grupo tão variado em cores e preferências, eles eram de uma gravidade de grandes pássaros, distantes e desconfiados. E era tão vivaz aquele seu segredo, juntos insistindo no som e no negro, que em alguns momentos eu esperava que talvez esse núcleo se espalhasse mesmo e afirmasse o Movimento, apesar das condições adversas. De toda forma, era preciso aguardar.
No sábado, 18 de agosto de 84, houve uma festa na casa do Satanésio, que ele e Maria organizaram. Na Rua do Riachuelo, uma porta alta, e dentro um corredor estreito e escuro longo que dá na sala e na cozinha, a casa se realiza bem no fundo, Numa época o Coquetel ensaiava lá no quarto do Satánas, uma das portas desse corredor frio. No dia da festa havia gente na calçada do lado de fora, mas só fui encontrar os hards nesse fundo da casa onde já rolava um som hard-core. Eles estavam encostados na parede em torno da sala, a um tempo coagidos e fazendo o cerco. Vietnam estava com um moicano aguçadíssimo, Vampiro e Nelson com o cabelo bastante arrepiado. Vietnam com o jaco cheio de bótons e um paninho "M H C" que ele tirava do coturno para o jaco, para a calça. Todos muito visuais, Nélson com a camisa preta com os nomes das bandas paulistas e o Vampiro com a camisa desbotada, várias impressões superpostas e, ilegível agora, denunciava um longo percurso de opiniões e preferências. Às vezes eles iam para o meio da sala e agitavam, e voltavam a seus postos, separados dos outros caras que circulavam pela casa. Ao estar com eles, senti que não podia estar com os outros, os hards estavam ali traçando mesmo um outro lugar. Então era isso: os punks são uns e os hards são outros, ou os punks são os hards e os outros já não são. Ou então não há mais punks. Como se o Movimento houvesse recuado para esse núcleo negro e resistente onde, talvez menos exposto às contaminações, envergava ainda o que têm sido as estratégias de seu exercício. Mas isso era possível, ainda? E como e em que momentos? Será que o Movimento Hard-Core seria por fim também neutralizado, ou o punk recobraria forças vindo agora do coração do subúrbio, do ceme resistente, radical, hard-core? O que aquele momento mostrava contudo - eu veria em seguida - não era essa alternativa da retomada ou do recuo definitivo, mas algo que não se oferecia assim de imediato, que era preciso conhecer mais, aguçar mais os sentidos para perceber.
O som hard é então interrompido para se ouvir um disco do Bauhaus - que era o som que agora se estava preferindo. Foi curioso vê-Ios apreciando um som mais fmo, sem agitar nada - ouvindo. Para os hards a festa havia tenninado. Mas às 10 e meia a festa acabou mesmo, por decisão da dona da éasa. À porta, era preciso dar um rumo àquela noite. E quase todos se preparavam então para ir ao Papagaio's. O grupo todo na calçada, na agitação de defmir os que vão, como e com quem. Kama e Yama estavam nessa festa. Soube depois que vpltaram para casa em seguida. Os hards a um canto da Riachuelo mal-iluminada. Decerto não iam ao Papagaio's. Seus planos era tentar chegar a um bar de que havíamos tido notícia no dia anterior no point: o Cactus, em Botafogo, onde se dizia que era possível levar fitas e dançar o próprio som. Em geral o punk quer isso. Nem pagar, nem consumir, chegar num lugar onde possa ouvir suas fitas, que é o único som de que eles gostam. Havia então claramente dois grupos, dois rumos diferentes, e aquele era o momento de as coisas se decidirem, ir ou não ir com quem. Quem ia para a danceteria já tinha planejado isso antes, esse' programa era agora habitual. Mas para mim foi mesmo uma escolha, porque durante o tempo todo da festa estive com os hards, ao mesmo tempo em que duas amigas, Rosaly e Margot, acompanhavam os outros à danceteria. Mas a coisa era muito simples: era tentar achar esse lugar novo, o Cactus, aonde as referências vindas por boatos poderiam ou não nos levar.
E nos levaram a umas ruas vagas e poeirentas onde ficamos andando. A chuva começou quando já procurávamos o número, enxaguando o sabão dos cabelos pontudos que no entanto se arrepiavam ainda mais. Eram Vampiro, Vietnam; Nélson, Alcatéia e Cláudio. Eu os via então juntos fora do point, pela primeira vez só eles, fonnando um outro bando entre si, e muito mais exuberantes, numa sorte de alegria sombria, graves e vivazes. Descobrimos que o número que nos haviam dado não existia, a rua acabava em silêncio - paramos na absoluta desorientação. A chuva tinha aumentado muito. Prosseguimos numa direção e fomos perguntando: a quem passasse (e eram poucos àquela hora ali) e no único bar aberto. Ninguém sabia desse lugar. Tomamos outra direção e procuramos mais, pensando que poderia ser o mesmo número numa rua próxima ou então na mesma rua mas do lado oposto, até começannos a considerar outros lugares para ir. Paramos sob uma marquise completamente inundados, depois continuamos, já em busca de qualquer outro lugar. A chuva mais fraca agora, caminhávamos conversando pelas ruas que não traziam mais nenhuma referência possível, em que não importava mais a numeração. Os nomes dos bares que assomavam como sugestão eram mera parte da conversa, ninguém queria ir a lugar nenhum. Não era como quando o bando inteiro caminhava, imenso pelo grande número e pela intensidade, assombrando pelo caminho. Mas agora, a irreverência silenciosa desses hards, pela rua e à noite e a esmo, afirmava não uma persistência nem uma retomada, mas uma insistência ilocalizável, contudo real e vislumbrada ali, subitamente atualizada, que deixava a-desejar, daria ainda o que pensar sobre o que desde o início tinha sido o estilo daquele bando. Aquele quase-nada apenas perceptível que produzia a intensidade e punha o bando a risco: em que se apostava a um tempo o seu desaparecimento e o seu exercício, e para mim também uma pista para compreendê-los.
Para o que eu procurava as palavras, a um tempo exatas e tão-só alusivas, o que me fazia percorrer as literaturas (das ciências sociais, da filosofia) à cata de um meio de não dizer, ou quase isso. Que não o discurso evasivo, nem o direto, que não nenhum truque lógico ou jeu de mots, nem recursos tipográficos, nem a retórica tortuosa, nem os virtuosismos neológicos - que aprisionam, eu pensava, nos circuitos previstos da idéia e da frase. Precisaria talvez desses conceitos anômalos em que no esforço da definição multiplicam-se as negativas, provocando uma margem imensa do que não é para dizer (não é isso, e não é isso, e nem isso). Não as tentativas repetidas que por aproximações sucessivas cercam um alvo. Mas a obliqüidade desejada, aí nessa afirmação vazada de nãos, ao enunciar o mínimo para livrar ao máximo o pensamento do jugo de refazer constantemente os binarismos, os circuitos viciados, evitando o que se arrasta na língua e que é a prisão do signo mesmo, que está no próprio ato de dizer. Projeto que nunca se realiza por completo, em que essa ameaça é um móvel que é preciso deslocar constantemente. À procura, portanto, menos dos autores que de momentos deles. Os momentos mais velozes de seu pensamento que, paradoxalmente, eram instantes de quase silêncio. Não o Bateson da esquimogênese, certo e triunfante, mas o instante (talvez mínimo e quase indiscemível em sua obra) de suspensão e sobressalto em que era preciso inventar outra coisa (o "steady state") para pensar a ilha de Bali.
Não o Lévi-Bruhl sem esperanças (como dizem) ao considerar o incognoscível das sociedades primitivas, mas ele em suas "promenades" pelo Bois ou Bagatelle, nos instantes em que a inquietude do corpo abrigava aquelas voltas do pensamento não como falha mas como afirmação; Clastres em sua celebração da linguagem, sempre que sua acuidade etnográfica e o uso sem culpa que faz do saber antropulógico me sugeriam a força do antropólogo que se distanciou nã'à porque viajou muito tempo, mas porque respeitou o que estudava em sua positividade enquanto seu pensamento também se fazia acontecimento, contra as categorias dominantes que viriam truncar seu exercício, assim também trabalhando para baldar o Estado, pensée sauvage. Na sociologia das gangues, esses momentos em que a força mesma do que se descrevia irrompia e escapava do que ainda se enunciava de dentro de um saber disciplinar. De Deleuze mesmo, o exercício de virar e revirar seus Mille Plateaux, tomá-Ios não como guia ou manual de conceitos, mas como engrenagens para a máquina-de-guerra que os punks, estar com os punks, pensar os punks, prepara. Os instantes de Lyotard em que ele repensou as ciências, e mesmo a construção do saber no Ocidente, em que notou e mostrou as fugas possíveis, falou das minorias, ocupou-se mesmo do feminiIío.
E esse debruçar-se sobre o sobressalto do pensador não é para enganá.J.o, nem porque alguns momentos sejam bons e outros maus - mas para que sua distração permita uma outra em que seja possível surpreender-se a todo instante, para que a proximidade com o pensamento seja constantemente. empurrada à frente, adiada em prol de um estranhamento. Em que a questão do antropólogo pesquisando em sua própria cidade se recoloca, apoiando-se em três níveis simultâneos: o funcionamento interno do pensamento, os problemas da escritura e a relação com a prática social concreta que se estuda. Nesse momento a questão de onde se está é irrelevante, trata-se de que nas fronteiras sempre mutantes desses níveis se trabalhe o silêncio, a pausa, a suspensão, ashesitações, as mudanças inesperadas - em qualquer região do social onde se esteja, é a penumbra do discurso, uma zona de indiscernibilidade em que o pensador já seja questão para o pensamento, até que a ciência quase se calasse. O que é muito difícil e jamais se fará o bastante.
E como isso já é um impasse da escritura, é demasiado longo falar do que se faz de um só gesto. Aquela noite terminou com as despedidas ainda sob a chuva. Foi curioso porque todos os lugares que pude pensar disponíveis por perto eram inviáveis. O que se passava ali era completamente indócil ao esquema comum dos bares, em nenhum caberia a irreverência dos hards. Não havia mais trem àquela hora, eles iam tentar um último ônibus. Os relâmpagos continuaram a noite inteira.

sábado, 3 de novembro de 2007

Hardcore: el punk que escapó del pozo del nihilismo

Por:

Víctor Lenore
Ladinamo

Retirado de: rebelion.org

El hardcore, un género combativo con más de veinte años de existencia, atraviesa una etapa de mutaciones. Por eso decidimos tomarle el pulso preguntando a cuatro expertos: Xavi Cervantes (coordinador de redacción de Rockdelux), Boliche (ex Subterranean Kids y responsable del sello discográfico y promotora de conciertos Outline), Jordi Llansamá (fundador del emblemático sello barcelonés Bcore y ex bajista de 24 Ideas) y Pepo Márquez (coordinador de la revista Staf, cerebro de The Secret Society y miembro de Our Bed Is The Ocean, además de dirigir Winter Forever Recordings).

¿Qué es el hardcore? (Explicación para no iniciados).

(Jordi) Joder, vaya preguntita. Pues es un estilo de música ligado a un estilo de vida. Yo diría que el hardcore es la evolución natural del punk, pero con mas cabeza, menos autodestructivo y más positivo. Menos "no future" y más "vamos a cambiar lo que no nos gusta".

(Xavi) En una palabra: actitud. En unas cuantas más, el hardcore es la evolución del punk que escapó del pozo del nihilismo.

(Boliche) De hecho, creo que es más importante el aspecto ideológico que el musical. Es la vertiente mas dura y salvaje del punk, con un mensaje más positivo aunque irónico a la vez. Respecto al sonido, es básicamente música rápida, agresiva e inconformista. Solía funcionar de manera autogestionada o en locales marginales, aunque ya se ha hecho un amplio hueco en todos los circuitos comerciales.

Orígenes/raíces del género.

(Jordi) Yo creo que la cuna es Estados Unidos, con bandas como Black Flag, Minor Threat, SSD, Negative Approach y mil más.

(Pepo) Dependiendo del libro que leas, la cosa varía. Yo me quedo con lo siguiente: al parecer los grupos pioneros ensayaban en cines donde pasaban películas porno (desconozco si estaban abandonados o no). Al porno en Estados Unidos también se le llama hardcore. De ahí, dicen, el nombre. Las bandas que empezaron todo: Bad Brains, Black Flag, Youth Of Today, Minor Threat y muchas más.

(Boliche) Mientras en EEUU (concretamente, en California) bandas como Black Flag o Circle Jerks adoptaban este término para definir su estilo, en Gran Bretaña los grupos más duros del momento (como Disorder, Chaos UK o The Insane) también se llamaban hardcore punk (obviamente, para distinguirse de las primeras bandas del 77 como The Damned o Sex Pistols). Esto se fue extendiendo a todos los países del mundo.

(Xavi) Aquí no se va a poner de acuerdo nadie. Creo que fue un fenómeno simultáneo que surgió en Los Ángeles, Nueva York, Washington, Londres… Había una necesidad compartida de hacerse oír, de utilizar el ruido y la velocidad como herramientas de autoafirmación en un contexto de descontento social, cultural y, sobre todo, individual.

¿Cómo echa a andar el hardcore?

(Xavi) Evolucionó por dos caminos. Uno era el formal, el de la aceleración, que más tarde sería recogido por el thrash metal y el grindcore, pero también por bandas como Hüsker Dü, que intentaban asimilarlo con estructuras melódicas más propias del pop. El otro camino era el ideológico-existencial, asociado a Minor Threat o Youth Of Today; el straight edge, que, visto con perspectiva, y pese a una innegable connotación sectaria, respondía a un posicionamiento vital realmente alternativo. Por ejemplo, la X que se pintaban los straight edge en la mano hacía referencia a la X que algunos bares, clubes y discotecas de Estados Unidos les pintaban a los menores de 21 años (es decir, a los que no podían beber alcohol). Al asumirlo como identificativo estético-simbólico los straight edge estaban afirmando una diferencia, combatían a la vez el mundo adulto y ese mundo “joven” basado en el viejo orden del rock.

¿Cómo y cuándo llega el género a España?

(Jordi) En los ochenta, con bandas como Subterranean Kids, GRB, Anti-Dogmatikss, L'Odi Social, etc.

(Xavi) Llegó tarde, desde luego. Primero tuvo que asentarse la visión punk del asunto, y eso llevó bastante tiempo. Odio las fechas significativas, aun así creo que el hardcore se hizo verbo cuando empezaron Subterranean Kids.

(Boliche) Las primeras bandas que podemos definir como hardcore son Subterranean Kids, GRB, Anti-Dogmatikss, L’Odi Social... Surgieron casi todas en Barcelona y periferia a principios/mediados de los ochenta. Algunas tocaban punk y simplemente digamos que adaptaron su sonido a las nuevas influencias. Algo más tarde, en casi todas las comunidades autónomas había bandas locales autoeditándose maquetas y tocando en los pocos sitios donde era posible. A principios de los noventa, hubo una especie de revival (por llamarlo de alguna manera) con nuevas bandas, gente más activa involucrada en fanzines, creando sellos independientes, emisoras de radio, montando conciertos y giras... El sello barcelonés Bcore editó a casi todas las bandas que sirven como referente de ese momento, entre las que destacan Corn Flakes o 24 Ideas, entre otras.

¿Cuál es el disco de hardcore que más has escuchado en tu vida?

(Jordi) ¡Pues no lo sé! Pero The Crew de 7 Seconds podría ser uno. Su hardcore positivo y simpático siempre me ha dado buen rollo.

(Boliche) Por decir solamente uno, quizás Pick Your King de Poison Idea. Tiene todo lo que un disco de hardcore tiene que tener. Temas cortos, rápidos en su mayoría, furia...

(Xavi) Para mí, la discografía completa de Minor Threat. Atesora la esencia primera y última del género, refleja la excitación del momento y da entender los conflictos que llevaron a la disolución del grupo, la contradicción entre lo pretendido y la reacción provocada… Sin exagerar, es arte.

(Pepo) Yo no sé... diré varios: The Shape Of Punk To Come de Refused, Scratch The Surface de Sick Of It All, Unorthodox de Indecision, Call On My Brothers de Ignite (una banda que se echó a perder, pero que tiene dos discazos inmensos), Out Of Step de Minor Threat...

Mutaciones en los noventa: ¿Qué es el post-hardcore? ¿Y el slowcore? ¿Y el emocore? ¿Son extensiones del hardcore? ¿Estilos distintos? ¿Cuáles son las conexiones/diferencias con el hardcore clásico?

(Xavi) ¡Bienvenidos al infierno de las etiquetas! El emo fue un buen intento para mantener la conexión con el hardcore por parte de unas bandas que, habiendo crecido con el hardcore clásico, preferían ofrecer una música diferente. También sirvió para catalogar a grupos que supuestamente tenían una necesidad expresiva que, también supuestamente, no encontraban un hueco en el hardcore clásico. Pero, como casi todo, se traba de una verdad a medias y de una mentira sin mala intención. Quizás se deba todo a una cuestión de supervivencia. Formalmente, el hardcore quedó codificado muy rápidamente. Así que no era extraño que algunos asumieran la base hardcore, sólida y codificada, para afianzar nuevas propuestas, mutaciones más o menos excéntricas y más o menos interesantes… jazz, noise, metal, funk, pop…El emo y el post-hardcore entran en esa lógica del matiz, esa rémora inevitable del postmodernismo.

(Pepo) Supongo que todo lo que lleve el sufijo “-core”, tiene más que ver con una actitud, una manera de enfocar esto de la música e incluso la vida, más que un estilo. Al fin y al cabo, hay grupos dentro de ese sufijo que están más cerca del pop clásico que de otra cosa y, sin embargo, se denominan "-core". Supongo que en los ochenta todo era más extremo, más dogmático: esto es esto e inequívocamente no es lo otro. Sin embargo, en los noventa todo se mezcló: llegan unos y mezclan con el jazz, otros meten pop y ruido y otros mezclan algo que no se sabe qué es.

(Boliche) Podríamos decir que son etiquetas creadas para definir estilos musicales, pero me preocupa más el hecho de que tengan que ver con el hardcore directamente o no, algo en común... Para mi son estilos distintos aunque hayan partido de la misma base. No soy quién para juzgar a nadie pero si antes hablábamos de cooperación como una seña de identidad del hardcore, difícilmente verás a miembros de bandas de un estilo determinado en conciertos de bandas de otro estilo. Por ejemplo, no creo que la audiencia del llamado post-hardcore o emo acuda a conciertos autogestionados de bandas de hardcore clásico. Y si no me equivoco, esto no es cooperación ni apoya una escena con identidad propia. Son cosas diferentes, no hay duda, lo que pasa es que queda muy bien la palabra post-hardcore en vez de rock o cualquier otra etiqueta supersobada. A la prensa local parece que le encanta...

¿Vive el hardcore un momento flojo, espléndido o normal? ¿Qué esperas del estilo en 2003?

(Xavi) Con el hardcore sucede lo mismo que con la mayoría de estilos. La capacidad de sorpresa se ha reducido considerablemente y cada vez hay menos margen de maniobra para presentar nuevos conceptos y nuevas formas.

(Jordi) Yo creo que sí vive un momento flojo en el sentido de que el avasallamiento de bandas y negocio es tal que se ha perdido un poco el sentido de comunidad. Por lo demás, esto se sigue manteniendo en pequeños circuitos y con bandas que, todavía, no han entrado en esta masificación.

(Pepo) El hardcore lleva en crisis algunos años. No sé qué espero para el 2003. La verdad es que hace mucho que no espero nada en concreto. Cada vez me desconecto más. Me interesan bandas que vayan más allá. No sé: Stand Still, Cave In... grupos que no son hardcore, pero que llevan el sufijo “-core”.

(Boliche) Siguen existiendo muchas bandas buenas a las que no parece que se les preste la debida atención y otras que sin merecérselo parecen haber caído en gracia a cierto sector de la prensa musical y se creen que se comen el mundo. Personalmente creo que el hardcore está estancado. Para la gran mayoría, es una moda musical. Pocos lo viven de verdad. Siempre hemos tenido nuestras virtudes y nuestros defectos y pienso que la cosa va a seguir igual, o sea que normalito... Ja, ja, ja.

Un póquer sin suerte

Nuestros entrevistados recomiendan artistas hardcore que no disfrutan de la suerte comercial que debieran. Además, recalcan la importancia de la caja recopilatoria de Dischord, un triple volumen que sirve de introducción a la historia del emblemático sello de Washington, del que salieron Minor Threat, Fugazi, Nation Of Ulysses, Lungfish y Smart Went Crazy, entre muchos otros nombres.

Xavi Cervantes recomienda:

Lungfish

Talking Songs For Walking, CD

(Dischord, 1991)

Salió a la sombra del Repeater de Fugazi y obtuvo menos eco del que merecía, pese a que su propuesta era también muy personal. Si alguna vez existió el emo, está en este primer disco de una banda que sigue en activo y extrañamente olvidada por muchos.

Otros artistas infravalorados que Xavi recomienda: Faraquet, Hoover, Kepone y Unsane.

Boliche recomienda:

Afterlife

Enter The Dragon, 7” y CD

(Crucial Response, 2003)

Independizándose del resto de bandas y sellos del Estado, Afterlife (Barcelona straight edge hardcore) han elegido la alternativa que más les convenía y han fichado por un sello extranjero ya consolidado y con una larga trayectoria dedicada en cuerpo y alma al hardcore. Crucial Response, veterano sello alemán, con importantes referencias a sus espaldas (Man Lifting Banner, Subject To Change, Colt Turkey...) ha editado su nuevo trabajo, Enter The Dragon, en CD y 7", respectivamente. Para la escena española es una pena que Afterlife (al igual que otras bandas nacionales) tengan que emigrar y editar sus trabajos en el extranjero debido al poco interés del consumidor habitual de hardcore-punk por bandas locales y a la poca solidez de los sellos especializados.

Otros artistas infravalorados que Boliche recomienda: The Challenge, Street Bastards y G.a.s. Drummers.

Pepo Márquez recomienda:

Planes Mistaken For The Stars

Knife in the Marathon, EP

(Deep Elm Records, 2000)

Son de Denver. Y me da igual cómo quiera la gente denominar su estilo. Esto es fuerza sin límites. Este EP es, sin duda, uno de los tres mejores EP que tengo. Probablemente llegó en una época de mi vida especialmente receptiva a ese sonido, pero lo cierto es que entré a fondo en esos seis cortes. Sonido sucio, gritos, cambios de ritmo, emo, noise, pasión, dolor. Y vuelta a empezar. Ese comienzo con "Scratching Rounds" y "Leaning The Room" te parte en dos y no te vuelve a dejar. De este grupo, lo que más me gusta es la voz y el juego de las guitarras. Es letal. La influencia de clásicos-pero-no-populares como Hot Water Music, Unbroken (a los que homenajean en el último corte con "Fall On Proverb") y bandas de Ebullition como Iconoclast, se hace patente pero no evidente. Tienen un disco posterior llamado Fuck With Fire editado por No Idea Records en 2001. Otra obra maestra.

Más artistas infravalorados que Pepo recomienda: Texas Is The Reason, By The Grace Of God, As Friends Rust, Battery e Iconoclast.

Recomendación común:

20 Years Of Dischord, Triple CD recopilatorio

(Dischord 2002)

(Xavi) Escuchándolo siento satisfacción y fascinación ante una lección de historia.

(Boliche) Bueno… es un gran trabajo, sin duda, pero ni mucho menos la piedra filosofal del hardcore. Lo veo necesario. Una buena compra repleta de información y música sobre un gran sello como es Dischord. Pero no hay que olvidar otras grandes escenas que quizás no han tenido la relevancia que se merecían como las de Boston, New York, la californiana de principios de los 80 o la europea misma; sería un grave error. En absoluto siento nostalgia.

(Pepo) A mí me da cierta envidia y, a la vez, cierta satisfacción poder vivir en la misma época en que vive Dischord. Poder sentir esa extraña sensación de espera frente a cualquier disco nuevo de Fugazi, o a los siguientes fichajes (nadie debería dejar pasar a Q And Not U)...

(Jordi): Yo siento mucha envidia sana. Es una discográfica que me inspira mucho respeto y admiración, tanto por los artistas como por las personas que trabajan en ella.