domingo, 30 de março de 2008

REFLETINDO SOBRE STRAIGHT-EDGE - IAN MACKAYE

O post a seguir é um convite à reflexão a partir de duas entrevistas dadas por Ian Mackaye quando esteve no Brasil ano passado. Fizemos um recorte de trechos de 2 entrevistas que versam sobre Straight-Edge. Na sequência de cada recorte segue o link para ler a entrevista inteira. Boa leitura.


Então surge o assunto sobre o qual todos queriam saber: straight edge. A pergunta era para que Ian fizesse um breve comentário sobre a situação atual do straight edge e todo o mal entendido. Ian pergunta se é para falar das pessoas no Brasil, na Europa ou nos Estados Unidos e me pede para dizer para o que isso representa para mim. Antes que eu possa contar a minha impressão sobre o assunto Ian começa a responder a pergunta:

...em 1980 eu escrevi uma música chamada “Straight Edge”. A música era sobre pessoas, sobre viverem suas vidas como elas quisessem. Naquela época meus amigos me ofereciam um monte de merda (drogas e álcool) e eu dizia “vão se foder, eu tenho a minha vida e não quero ter que me juntar a vocês”. Pura pressão! Então eu escrevi essa música sobre o direito das pessoas de viverem a sua vida do jeito que elas quiserem. Mas na cena punk da época... a idéia do punk do no final dos anos 70 era niilista, era auto-destrutiva, mas eu não sou auto-destrutivo, eu acredito em auto-construção, eu faço coisas, eu não as destruo. Mas a auto-destruição era muito atraída pelo punk rock porque o punk era um abiente em que as pessoas eram diferentes e tinham pensamentos diferentes, radicais. A minha idéia radical era “eu não destruo, eu faço” e isso teve uma grande resposta e a maioria era contra essa idéia. Mas então, depois de alguns anos, outros garotos nos Estados Unidos começaram a dizer “hey, esse sou eu, eu também sou assim!” e aí o straight edge começou a ser isso, as pessoas começaram a falar sobre straight edge e então um tipo “movimento” se desenvolveu. Mas eu nunca fiz parte dele. E, obviamente, um movimento é contrário ao indivíduo, esses movimentos não ligam para os indivíduos. Mas eu estava cantando justamente sobre um indivíduo. E conforme esse “movimento” foi crescendo ele foi ganhando novas formas... você conhece aquela brincadeira chamada “telefone sem fio”, em que você fala para uma pessoa e no final vê como a frase mudou? É a mesma coisa! É maior do que eu, não é meu, se tornou algo diferente! Então quando você tem algo que pode ser percebido como regras as pessoas sentem que elas podem impo-las. Mas para mim nunca existiu nenhuma regra. E, claro, quando você tem regras você acaba atraindo fundamentalistas, puristas ou pessoas intolerantes e essas pessoas geralmente têm uma barriga cheia de violência. Elas querem botar isso pra fora e o jeito de fazer isso é procurando algo para puxar o gatilho. E se existem regras esses são os termos perfeitos para isso. Então, dentro do straight edge, existiam pessoas, não muitas, não a maioria, só algumas poucas, que colocaram essa violência em prática (creio que nesse momento Ian pode estar se referindo a um caso em que, nos Estados Unidos, um jovem morreu depois de ter sido espancado por um grupo de straight edges). Mas, porque a violência está nos jornais, na mídia e todos adoram falar sobre isso, as pessoas passaram a conectar as duas coisas. Pense a respeito! Hoje à noite, eu achei que foi um ótimo show, todos acharam isso, mas imagine se de repente alguém começasse a brigar... é garantido que todos lá iriam gritar “yeah! Uma briga!” porque é sobre isso que as pessoas falam, é sensacionalismo. Então ultimamente... a pergunta era sobre straight edge hoje em dia... independentemente do que isso quer dizer, eu diria que existem algumas poucas pessoas, marginais, que tem problemas e que usam isso como uma maneira de tentar lidar com a sua violência. Mas a grande maioria são pessoas que se sentem conectadas ao straight edge, que se denominam straight edge, são pessoas que tentam viver bem suas vidas, fazendo coisas boas e não se voltando contra ninguém. Isso responde a pergunta? (digo que sim) Legal!

Fonte: http://www.rockpress.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1443&mode=thread&order=1&thold=0

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Em entrevista recente tb, falando sobre seu novo projeto o THE EVENS ele versa sobre o assunto dizendo o seguinte:

IAN MACKAYE -> Então, meu ponto é que, na maioria das vezes, eu escrevo sobre o que eu penso e o que sinto, mas não é tão simples assim. Às vezes, eu tento ser bem direto ao ponto porque eu quero que as pessoas se envolvam, não quero que as pessoas achem que estou tentando confundi-las. No início do Minor Threat, eu dei às pessoas algumas idéias bem simples. Tentei ser o mais direto possível. O que eu descobri é que sendo tão direto, dando às pessoas idéias que, essencialmente, parecem completas, elas podem tomar essas idéias e usá-las como bem entenderem. Por exemplo, uma música como “Straight Edge”, que é uma música sobre auto-definição e autodeterminação, sobre viver a vida como você acha que é melhor para você, sobre rejeitar pressão de grupo e não ser forçado a fazer coisas que você não quer fazer, esta é uma idéia completa que pode ser usada por fundamentalistas para promover intolerância. Ou fazer pessoas obedecerem alguns tipos de tipo de estruturas. E isso nunca, nunca, nunca foi minha intenção.Eu já usei essa analogia várias vezes antes, mas o que eu percebi é que, escrevendo mensagens extremamente diretas nas minhas músicas, eu posso ter criado “uniformes” que qualquer um pode usar. E uma vez o sujeito o veste, sejam lá quais forem suas intenções, este “uniforme” torna-se sua missão. Então, mais tarde, me dei conta de que ao invés de fazer “uniformes”, eu deveria “costurar” idéias do mesmo modo como se costura tecidos e tramas mais complexas para que as pessoas se envolvessem com isso, para elas construírem algo de positivo a partir disso.

Fonte: http://desova.wordpress.com/2007/03/30/%e2%80%9ceu-sou-cheio-de-amor-eu-sempre-fui-cheio-de-amor%e2%80%9d/

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